terça-feira, 22 de setembro de 2009

TROVAS DE CAMPO MAIOR

A minha terra
É CAMPO MAIOR;
Não há no País,
Para mim, outra melhor
Ó! LINDA TERRA
TERRA abençoada
Quando penso em ti
Não sei pensar em mais nada.

Tens raparigas
Que são bem formosas,
Parecem escolhidas,
Dum bouquet de lindas rosas.
Outras, ainda,
De vestes garridas,
Semelham rubras papoilas.

REFRÂO

Campo Maior,
Meu torrão abençoado
São felizes os que vivem
Sob esse teu Sol doirado.
CAMPO MAIOR
Foi teu nome inicial,
Mas quis Deus que tu crescesses
P´ra seres grande em Portugal.

O teu Castelo
É dos mais formosos,
E foi reforçado
Entre tempos bem revoltosos;
Entre os mais belos,
É um dos primeiros,
Sem nunca ruir
Resistiu aos "estrangeiros"!

Uma janela
Nele foi rasgada
(estilo manuelino),
A rigor delineada,
Nobre castelo,
Bem tradicional;
É, sem paralelo,
MONUMENTO NACIONAL.

Os teus trigais,
Vastos, bem cuidados,
Verdadeiro encanto
De papoilas salpicados,
Espigas doiradas,
Que o Sol faz brilhar,
Que ceifeiras lindas,
A seu tempo vão ceifar.
E na lavoura
Tu és dos primeiros;
É ver os teus campos
Pejadinhos de oliveiras,
Ó! Alentejo
Toda a gente o diz
Tens orgulho em ser
O CELEIRO DO PAÍS.

Na minha terra
O trabalhador,
Trabalha cantando,
De manhã até o Sol pôr,
Sulcando os campos,
Á charrua atento,
Nem que esteja frio
Faça chuva ou haja vento.

As raparigas
São de igual teor
Ou não fossem elas
Filhas de Campo Maior.
Lá nas vindimas,
Quem as quer ouvir,
Entoando rimas,
Colhem cachos, a sorrir.

Em vários campos,
Vá lá, p´ra remate,
Deu a minha terra
Rebentos de bom quilate.
Que, em toda a parte,
Aquem, além mar,
Com valor e brio,
A têm sabido honrar.
Ó! Nobre Vila,
Flor do Alentejo,
Por muito que eu corra,
Como tu nenhuma vejo,
Terra querida,
Meu Torrão Natal,
POr ti, dava a vida,
Cantinho de Portugal.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

TORTURA

Tirar dentro do peito a Emoção
A lúcida Verdade, o Sentimento!
-E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-E ser,depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

FLORBELA ESPANCA

sábado, 13 de junho de 2009

À VILA DE CAMPO MAIOR

Vila de Campo Maior foste vila de reinados
Tens um castelo imponente que mostra os tempos passados
Tua janela arrendada era janela de rei
E eu tão pobrezinha era tantas vezes lá brinquei
Hoje estás abandonado mas mesmo assim tens beleza
És o refúgio mais belo onde vai a camponesa
Por entre as tuas muralhas se avistam campos além
Searas de trigo louro saindo da terra mãe
Tu tens moinhos de vento de tempos que já lá vão
Ainda existem as mós que faziam a farinha para dela vir o pão
Campo Maior és uma bênção neste nosso Portugal
Não há vila do País que a ti se torne igual
Azeitona Cordovil das tuas terras provém
Chamam-lhe azeitonas de Elvas mas direitos não lhes tem
Ó camponesa ceifeira com pandeireta tocando
Teu cantar é melodia quando tu andas bailando
És arraçada em mourama camponesa d'uma figa
Tens olhos cor de azeitona cabelos negros ao vento
E pele cor de uma espiga

Rosa Dias

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Primavera

Hino à Primavera

Esses campos verdejantes
que percorremos a eito...
Já não são o que eram antes,
fazem-nos abrir o peito.
Deles rebentam flores
de várias tonalidades...
crescem com elas amores
e algumas amizades.

O cantar dos passarinhos
dá nova fisionomia.
Dá-nos festas e carinhos
e também dá alegria.
O chocalhar dos chocalhos
do gado que anda a pastar...
É uma linda melodia
que nos incita a amar.
O cheiro que a terra deita
é cheiro entontecedor,
tal qual como quem espreita
o despertar do amor.

Esses campos verdejantes,
são mais lindos, mais dourados,
são o lugar dos amantes e de muitos namorados.

Fernando Fitas

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água(quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

terça-feira, 5 de maio de 2009

Eu

Até agora eu não me conhecia
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me-pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca